Problemas relacionados ao uso de antimicrobianos na piscicultura

O uso indiscriminado e abusivo de antimicrobianos causa o surgimento de “superbactérias”

Piscicultura - imagem ilustrativa

Um dos maiores desafios da piscicultura mundial é garantir a sanidade da criação. Problemas sanitários são recorrentes e agem como uma espécie de freio para a expansão do setor, além de provocar impactos significativos no que se refere à questão econômica. Nesse sentido, é necessário adotar diferentes estratégias para evitá-los.

O professor do Curso CPT Criação de Peixes – Como Implantar uma Piscicultura, Giovanni Resende, relata que o aspecto relacionado à saúde das criações de peixes tem sido negligenciado por muitos criadores, o que pode produzir efeitos significativos na rentabilidade da criação e na qualidade do peixe que é produzido.

A utilização de antibióticos é uma medida importante não só para a produção animal, como também para o homem. Desde que passaram a ser utilizados, os antibióticos salvaram milhares de vida e revolucionaram a medicina e a produção animal. Contudo, com o crescimento do uso ano após ano, temos, atualmente, alguns problemas relacionados à aplicação deles. Aponta-se que tenham se tornado cada vez menos eficientes no controle de doenças bacterianas. Mais além, na piscicultura, há muitas dúvidas e inconsistências na recomendação do uso de antibióticos, além de casos que demonstram falhas nos tratamentos aplicados.

Antibióticos, antimicrobianos ou antibacterianos?

Frequentemente tratados como sinônimos, há, tecnicamente, diferenças entre esses três termos. Antimicrobianos são, de acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal, substâncias empregadas no tratamento de doenças infecciosas, principalmente as causadas por bactérias. Antibióticos são, por definição, substâncias naturais produzidas por microrganismos que inibem o crescimento ou matam outros microrganismos. Antibacterianos, como o próprio nome demonstra, são tipos de antimicrobianos direcionados para atuarem especificamente contra bactérias.

Antimicrobianos na piscicultura

O uso desse tipo de medicamento na piscicultura teve início há pouco mais de 70 anos, para tratar infecções na truta arco-íris e no salmão, nos Estados Unidos. O êxito nesse uso fez com que aumentassem o número de fármacos para a antibioticoterapia.

Específicos para as infecções bacterianas, os antibacterianos atuam de formas diferentes no combate a esses microrganismos. Em nosso país, são quatro os produtos antibacterianos autorizados para uso pelo MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: dois à base de florfenicol, 1 à base de oxitetraciclina e 1 à base de bacitracina de zinco. São misturados à ração e aplicados de forma oral.

Problemas relacionados ao uso de antibacterianos na piscicultura

O uso indiscriminado e abusivo de antimicrobianos na saúde humana e na produção animal fez com que os microrganismos, como estratégia evolutiva e de sobrevivência, desenvolvessem mecanismos biológicos e de resistência que bloqueiam e/ou os tornam resistentes à ação desses medicamentos.

Antigamente, era possível contornar esse problema com o desenvolvimento de novos antimicrobianos. Porém, com a produção de centenas desses medicamentos, atualmente é mais difícil desenvolver novos, que deem conta de serem efetivos e que consigam “frear” a resistência das bactérias. Isso produz o que chamamos de “superbactérias”, que nada mais são do que bactérias já conhecidas que se tornaram resistentes – algumas, resistentes a muitos tipos de antimicrobianos.

Nesses casos, pacientes que contraem essas superbactérias precisam ser tratados com antimicrobianos mais potentes, que são, ao mesmo tempo, mais tóxicos. Em muitos, os antibióticos tornam-se ineficazes, o que acaba levando o paciente a óbito.

Mas, o que isso tem a ver com a produção animal? Em ambos os casos, acontece a mesma coisa. As bactérias resistentes possuem genes específicos que produzem os mecanismos ou moléculas que promovem a resistência aos antimicrobianos. Ainda, as bactérias, em geral, são dotadas de sistemas biológicos que permitem a troca de genes entre microrganismos da mesma ou de diferentes espécies.

Nesse prisma, o uso de antibacterianos na piscicultura pode selecionar ou desenvolver bactérias resistentes, que podem “trocar informações” com bactérias que causam doenças em seres humanos, problema agravado pelo fato de que a criação de animais em água pode tornar mais fácil a transmissão aos seres humanos.

 


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Fonte: Panorama da Aquicultura – panoramadaaquicultura.com.br
por Renato Rodrigues

Renato Rodrigues 05-05-2020

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